segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Entrevista à Assistente Social da Instituição Causa da Criança

“A causa da criança” é uma instituição de acolhimento temporário de crianças que foram retiradas dos pais por decisão judicial. Esta casa está localizada em Vila Nova da Telha, no concelho da Maia e iniciou o seu funcionamento recentemente. As instalações são perfeitas para acolher muitas crianças e proporcionar-lhes alguns momentos de alegria, graças aos vastos espaços livres e à excelente luminosidade das instalações, garantindo às crianças que lá se encontram o melhor conforto. Assim, com todas estas condições, a adaptação das crianças torna-se mais fácil, como afirma a assistente social da instituição, na entrevista que se segue!

A.P. - Sabemos que esta casa de acolhimento temporário de crianças abriu as portas muito recentemente. Quando é que a instituição começou a funcionar?

Assistente Social - Abriu dia 12 de Novembro de 2007, mas só foi inaugurada, com a recessão às crianças, no dia 12 de Janeiro de 2008.

A.P. - Qual é o horário de funcionamento da instituição?

A.S.
- A instituição funciona 24 horas por dia, 365 ou 366 dias por ano, incluindo domingos e feriados. (risos)


A.P. – Uma criança necessita de muito apoio, carinho e de constante vigilância, e é de esperar que as crianças que se encontram em instituições necessitem de toda esta atenção em dose redobrada, por se encontrarem numa situação mais fragilizada. Quantos e quais os profissionais que acompanham regularmente as crianças?


A.S. – As crianças são acompanhadas regularmente por uma equipa técnica constituída por uma assistente social (eu), um psicólogo e uma educadora social. Temos dez ajudantes auxiliares de educação (funcionários que estão com as crianças mais tempo). São estas pessoas que lhes dão banho, lhes mudam a fralda, os acompanham enquanto brincam, etc., normalmente estão sempre presentes duas auxiliares em cada turno. Temos, também, duas auxiliares de serviços gerais (limpeza, tratamento da roupa), uma cozinheira e duas auxiliares de cozinha, uma administrativa (a Dona Berta) e uma motorista que leva e vai buscar as crianças à escola e no espaço em que não há transportes a fazer, fica na instituição a ajudar.

A.P. – As crianças podem ser retiradas aos pais independentemente da idade. Recebem crianças de que faixa etária?

A.S. – Acolhemos crianças dos zero aos doze anos. Mas, neste momento, cuidamos de duas de catorze anos, devido às situações especiais de fratrias, isto é, não separar irmãos, porque o facto de os irmãos permanecerem juntos facilita a adaptação à nova casa.

A.P. – As crianças que vêm para esta instituição não sabem quanto tempo têm que ficar nesta casa. Qual o tempo máximo prevista para uma criança permanecer neste centro?

A.S. – Como sabem, isto é um centro de acolhimento temporário, por isso tentamos que fiquem aqui o menor tempo possível. Um mínimo de três a seis meses, no máximo um ano. Mas cada caso é um caso.

A.P. – Muitas crianças que cá chegam não sabem qual será o seu futuro após a passagem por esta instituição. Qual o futuro das crianças que se encontram nesta casa?


A.S.
– Está tudo em estudo, pois somos uma instituição recente. Já temos uma criança que voltará amanhã (15 de Fevereiro) para a família, vai viver com a avó. As outras poderão ir para a família, pai ou mãe, podem também ir para a família mais alargada, ou seja, tios e avós ou uma pessoa idónea, isto é os padrinhos ou vizinhos que tenham algum tipo de afinidade com a criança. Pode-se, também recorrer a famílias de acolhimento e aí é a segurança social que faz a selecção. Algumas crianças também poderão ser adoptadas e como último recurso tentamos os lares que irão acolher as crianças até estas atingirem os 18 anos.

A.P. – O facto de sabermos que nesta instituição existem crianças que já passaram por algum tipo de sofrimento que não deviam ter sido sujeitas entristece-nos profundamente. Já surgiu nesta casa alguma criança com uma história de vida que vos chocou?

A.S. – Todas nos chocam. Como já devem ter reparado todas as crianças são muito queridas, lindas e amorosas, e todas elas têm histórias que nos chocam, sendo algumas mais complicadas que outras, e o facto de estarem aqui significa que algo está mal.


A.P. – Tal como referiu, o facto de as crianças estarem aqui significa que algo não está bem. Os primeiros a pressentir quando as coisas não estão a correr bem são as crianças e é normal que por isso estas crianças estejam mais abaladas. Como se encontram psicologicamente os meninos e meninas quando aqui chagam?


A.S. – Nos primeiros dias é complicado. Apesar de muitos chegarem cá muito mal, com fome ou sujos, por já não comerem há vários dias ou não tomarem banho há muito tempo ou nunca terem ido a um médico. Mesmo estando nestas condições, conviviam com as pessoas que gostavam e com quem estavam habituadas a viver, embora em más condições. Quando cá chegam passam a estar com pessoas que para eles são uns estranhos, então eles choram e berram durante toda a noite. Mas é claro que também depende da idade das crianças. Tentamos sempre minimizar estas situações. Para isso, prestamos atenção a certos pormenores (o que cada um mais gosta de fazer, o que gosta de comer, como gosta de dormir…). Tentamos sempre acompanhá-los ao máximo. Apesar de ser complicado as crianças, ao fim de algum tempo acabam por se adaptar.

A.P. – Como acabou de dizer, as crianças acabam por se adaptar. Mas como costuma ser essa adaptação?

A.S. – As crianças têm um grande poder de adaptação e o facto de na instituição estarem outras crianças ajuda que eles se sintam mais à vontade. Assim os meninos e meninas acabam por se adaptar a nós e nós a eles rapidamente.

A.P. – Considera que as crianças que se encontram em lares apresentam um desenvolvimento intelectual diferente das outras crianças?

A.S. – Pela experiência que tenho, depende de cada criança. Quanto mais cedo for a intervenção (judicial), quanto mais cedo se provar que aquela família não tem condições para sustentar aquela criança, mais possibilidades há para eles irem para outro meio e receberem outro apoio. Obviamente, isso será reflectido no seu desenvolvimento intelectual. No entanto, há casos de sucesso, mas também há casos de insucesso, portanto, há um bocado de tudo. Por isso, não podemos partir do princípio que as crianças que estão em instituições não vão ser alguém no futuro. Com o esforço de cada um e o apoio de todos eles podem evoluir como todas as crianças.

A.P. – Esta é uma instituição de cariz social. Que tipo de apoio recebem por parte do governo?

A.S. – Recebemos um apoio mensal da segurança social por cada criança que temos cá acolhida. Essa verba é disponibilizada para mantermos toda esta estrutura, pagarmos aos funcionários, pagarmos as despesas da casa: água, luz, telefone, gás, alimentação. Temos também o apoio de sócios da instituição, que pagam 50 euros anuais. Contamos também com os donativos, pois somos uma instituição particular de solidariedade social e recebemos também o apoio de pessoas que livremente vêm cá oferecer bens materiais e alimentares para as crianças.

A.P. – Não existem muitas instituições deste tipo aqui no concelho da Maia. Tem conhecimento de quantas poderão existir?

A.S. – Este é o único centro de acolhimento temporário de crianças existente no concelho na Maia e só existe um único lar para crianças.

A.P. - Existem muitas pessoas que estão dispostas a ajudar estas instituições. Quem quiser ajudar a instituição como pode fazer?

A.S. – Pode tornar-se voluntário. Ou sócio, pagando uma verba anual de 50 euros, e também pode ajudar através de donativos. Quanto ao voluntariado as pessoas podem ajudar as crianças a estudar, a fazer os trabalhos de casa a brincar com elas no jardim, mas também podem ajudar a separar roupas que são fornecidas à instituição. Nas férias de Verão também iremos precisar de voluntários para acompanhar as crianças à praia e tomar conta delas. Outra forma de poder ajudar a instituição é trazendo alguns bens de que necessitamos, como por exemplo leite (este é o bem que mais gastamos e o que mais precisamos), mas também nestum, batatas, cenouras, cebolas e alguns artigos de higiene como fraldas, gel de banho, toalhetes, pasta dos dentes… ou seja tudo o que é preciso numa casa com crianças.
De seguida mostra-mos algumas fotos das instalações do centro e da nossa visita lá:

A sala de estudo dos mais velhinhos

O quarto dos rapazes

O jardim

Nós as quatro no berçário

O parque de diversões

Outro dos quartos

Um dos quartos

O berçário

A Ju no berçário

Funcionária do Centro a dar a papa

Reflexão de um dos elementos do grupo

Deparamo-nos diariamente com a solidão e o desespero à nossa volta.
Olhamos para ele, porém, não o assumimos olhos nos olhos, não assumimos que devemos dar graças ao que temos, não assumimos que afinal há vidas que são meras sobrevivências perante as nossas.
Muitos passam por loucos, mas afinal, o que será a loucura?!
Para mim, loucura é não nos pudermos encontrar a nós próprios, loucura é não puder tocar a vida, senti-la, ama-la...respeita-la.
Para a sociedade, louco é aquele que não segue um padrão comum à comunidade, louco é aquele que se sente feliz por conseguir captar uma gota de orvalho que permanece na terra por breves momentos mas logo se dissipa no palco da existência.
Contudo, é necessário ser-se louco uma vez na vida, caso contrário, não seriamos seres humanos.

Ana Costa